sábado, 1 de novembro de 2014

Dia de Todos os Santos

A celebração do Dia de todos os Santos é uma comemoração que surge na Igreja desde seus primórdios, mas não oficialmente e nem com um dia determinado. Os primeiros registros da celebração em um dia específico se dão em Antioquia, no século IV, em que se designou o domingo seguinte ao de Pentecostes para celebrar o dia de todos os santos conhecidos e desconhecidos, uma vez que, pela perseguição, muitos cristãos foram martirizados, e assim, muitos permaneceram anônimos.

Panteão Romano.
A comemoração regular se deu início depois que o Papa Bonifácio IV, em 13 de maio de 609 ou 610 dC, dedicou o Panteão Romano - templo de todos os deuses – à Maria e a todos os Santos. O Papa Gregório III (731–741 dC) muda a comemoração para novembro ao dedicar uma capela em Roma a todos os santos, e decretou que a celebração fosse no dia 1º de novembro. Somente com o Papa Gregório IV que a celebração foi declarada como Festa Universal da Igreja.
São Domingos Sávio e a mortificação.
A celebração de Todos os Santos nos remete à vivência da santidade, que é o ponto chave da celebração, onde a Igreja exalta um grande louvor à Deus por seus Santos, homens e mulheres, que pela identificação a Cristo sofreram as dores de suas cruzes particulares, subiram o monte calvário, lá crucificaram o homem velho e renasceram para uma vida eterna, com, e em Cristo. Por isso“a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, proclama o mistério pascal realizado naqueles homens e mulheres que sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus. (CEC 1173)”.

A comemoração tem também como objetivo clarificar a grande via para a união divina, que é a busca pela santidade. Uma vez que, só os santos entrarão na morada celeste, é preciso entender também que o cristão precisa, a exemplo dos santos, trilhar esse caminho de santidade que é a vivência da vida do próprio Cristo.

Como auxílio para vivência de santidade, a Igreja ensina sobre a Comunhão dos Santos (CEC 957), que nada mais é, do que a tríplice realidade eclesial, onde a Igreja Militante, peregrina na terra, pede a intercessão dos santos que já participam da Igreja Triunfante, e também intercede pela Igreja Padecente, para que essas almas – que estão no Purgatório – possam o quanto antes gozar das alegrias eternas.

Igreja Triunfante, Militante, Padecente.
Com isso, vê-se que essa comemoração nos recorda o chamado à santidade, pela conversão diária à perfeita caridade, cumprindo o mandato de Cristo que disse: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48)”. Assim, a Comunhão dos Santos se realiza, na tríplice realidade eclesial, em que cada realidade – Militante, Triunfante e Padecente – permanece unida uma a outra, tendo como Cabeça o próprio Cristo no céu, que guia os seus membros na terra. E assim, se dá a união do seu Corpo Místico, onde todos pela graça divina, já gozam de um pedaço do céu, a união divina. Pela comunhão, reunião e união, dessa tríplice realidade eclesial, entende-se a dupla dimensão, material e espiritual, uma nos move a um caminho de conversão e a outra nos faz já participar das realidades celestes aqui nessa terra, onde peregrinamos rumo ao Céu, a eterna terra prometida.

As realidades material e espiritual, sempre estiveram unidas intimamente, ao passo que, corpo e alma, são as condições básicas para que os homens possam alcançar a sua salvação. E é a perfeição dessas realidades que formam a santidade. Pode-se constatar facilmente no Evangelho, onde Jesus diz que, “a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6, 45)”. E isso quer dizer que o corpo se move segundo a vontade da alma. Com isso, vê-se que a celebração de Todos os Santos, possui um valor catequético de grande valor, onde a Igreja exalta os santos que encarnaram a vida espiritual puramente em suas vidas, fazendo o reino de Cristo visível no mundo.

O grande teólogo Garrigou Lagrange, em sua obra: As três idades da vida interior, usa o termo: Vida eterna começada, que expressa fielmente a ideia de que o Reino de Cristo já é presente, e nós já participamos dele pela busca de santidade, pela vivência da vida de Cristo e pelo testemunho real de uma vida verdadeiramente cristã.

“A vida interior do cristão supõe o estado de graça, porque a graça é o germe da vida eterna. (As Três Idades Da Vida Interior. Cap. I, pag. 31.)”

Portanto, quando estamos em estado de graça, atualizamos o reino em nossa vida, e já participamos da vida divina, “mediante esta infusão divina da graça habitual ou santificante, que é uma participação da natureza divina ou da vida intima de Deus (As Três Idades Da Vida Interior. Cap. I, pag. 37)”. Com isso, vemos na celebração de Todos os Santos um grande ‘louvor entoado a Deus, pela Igreja Triunfante, Padecente e Militante. A Comunhão dos Santos nos impulsiona a cada vez mais buscar a santidade, para permanecer em estado de graça e perseverar no coro da Comunhão dos Santos, e a entoar o Cântico Novo (Ap 5, 9ss), que é o verdadeiro testemunho de Cristo a todas as nações. Para que a exemplo dos Santos que celebramos, possamos chegar ao término de nossa história, que já começamos a escrever em tábuas de carne aqui nessa terra. E assim, no fim, que será o início, poderemos dizer: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé (II Tm 4, 7)”, pois em mim “o Verbo se fez carne (Jo 1,14)” e “eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20).”


Seminarista Rafael Augusto

Um comentário:

  1. Lindo, to quase chorando de emoção em ver o blog funcionando. E muito bom texto

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