segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Purificação, Iluminação e União


Os três elementos são conhecidos também como as “três vias”, que promovem na vida espiritual do fiel um grande crescimento, pois eles estão envoltos ao processo de conversão, com isso vê-se todo o processo de conversão. Começa com a purificação do pecado, seguida da iluminação da consciência, para, por fim, chegar à união íntima com o próprio Deus.

As três etapas dessa via, não se dão em estágios, pelo qual a alma vai passando, é claro que em determinado período do processo de conversão se foca mais em uma do que outra, mas, podemos dizer que as três vias agem de forma simultânea, ao passo que a alma é purificada pela iluminação que Deus concede a ela, e essa iluminação se dá a partir de nossa proximidade a Deus, a luz divina que nos vem iluminar.

I – Via Purificativa
A via purificativa tem seu foco na vontade da alma, essa via promove uma purificação das paixões e dos maus hábitos, purificando a alma, principalmente, em seus atos e palavras. Nela, a alma tende a uma maior ascese, buscando o domínio das paixões pelos três exercícios ascéticos, a oração, que cala o pensamento e inclina a atenção para Deus; o jejum, que tem como objetivo fazer com que a alma possua um maior domínio sobre seus desejos, fortalecendo-a para que não se deixe levar pelas desordenadas paixões; e a esmola, promove uma harmonia comunitária, onde a alma aprende a dar e dar-se ao próximo, fazendo com que ela alcance a virtude da liberalidade, purificando-se do egoísmo e do egocentrismo. Com isso, esses três exercícios promovem uma reordenação das relações da alma, a primeira com Deus, pala oração, a segunda consigo mesmo, pelo jejum, e a terceira com o próximo, pela esmola.

II – Via Iluminativa
A via Iluminativa tem como foco uma maior identificação da alma com Cristo, por meio do conhecimento dos mistérios divinos. E para uma maior identificação é preciso que se conheça cada vez mais o “objeto” da identificação. Ao passo que a alma vai conhecendo mais a Cristo, mais ela se transforma n’Ele, quanto mais próximo à luz, mais se reflete o brilho divino. 

Essa via proporciona à alma um crescimento interior no amor, pois quanto mais se conhece a Cristo, mais a alma o ama e quanto mais ama, mais busca-se conhecer o que é amado. Como numa relação entre esposos, o amor cresce ao passo que a alma conhece mais o Amado.

O grande meio de iluminação da alma é a meditação da Palavra de Deus, pois quanto mais intimidade com a Palavra de Deus, mais intimidade se adquire com Ele. “A via iluminativa consiste na imitação de N. S. Jesus Cristo (TANQUEREY, § 963).” Na meditação profunda da vida de Cristo, a alma conhece pelos seus exemplo e ensinamentos aquilo que ela precisa ser, pois, Cristo é o grande arquétipo (modelo), ele é nosso modelo de perfeição. E para se chegar a identificação a Ele, é preciso conhece-lo, experimenta-lo, entrar em sua intimidade. Na via iluminativa a alma vai tomando consciência de quem é Cristo e da sua própria identidade, reconhecendo o que se é, e encontrando aquilo que precisa ser. 

O próprio Mestre diz: “Se permanecerdes em minhas palavras, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres (Jo 8, 31-32)”. Essa passagem mostra puramente o sentido e a importância da via iluminativa. Ele diz que se permanecermos em suas palavras e isso quer dizer que se perseverarmos nos ensinamentos seremos imagens, reflexos d’Ele mesmo. Também ressalta que se conhecermos a verdade ela nos libertará, e isso expressar a iluminação que a palavra de Cristo traz a alma, libertando dos vícios (maus hábitos) e dos falsos conceitos que nos geram preconceitos e um grande apego a nossa própria imagem.

III – Via Unitiva
A via unitiva é o estágio de maturidade da vida interior, pois a alma que chega a essa via, por meio das outras duas anteriores, chega a um amadurecimento do Amor a Deus tendo Ele como sumo bem de sua vida. Aqui nasce um desejo de entrega total, o desejo de uma identificação cada vez mais àquele que se ama. A alma está tão identificada a Cristo que, seu ser reflete a divindade do Amado Mestre e se reconhece na alma os atos e as palavras de Cristo. Nessa via as almas são reconhecidas como santas, por participarem da santidade de Deus que às torna perfeitas em seu Amor.

Nesta via “o Amor de Deus torna-se deste modo não somente a sua virtude principal, mas, pode-se dizer, a sua única virtude, neste sentido que todas as outras virtudes, que a alma pratica, não são para ela senão atos de Amor (TANQUEREY §1293)”. Na via unitiva a alma adquire uma compreensão de sua vocação cristã, o chamado a uma transformação em Cristo Jesus, por isso, São Paulo vai exclamar: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim (Gl 2,20)”. A afirmação de São Paulo mostra a identificação com Cristo que as almas que se abandonam nos braços d’Ele adquirem, uma participação no ser divino e acontece uma divinização do homem, e parece que a alma aí saboreia as graças da criação, uma pura identificação a imagem e semelhança de Deus.

Diácono Rafael Augusto

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