sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Superficialidade

Um mergulhador, quando ainda se encontra na superfície do oceano, não consegue contemplar as belezas da profundidade marítima nem mesmo percebe o todo do horizonte que se põe diante dos seus olhos, pois os aparelhos pesam, incomodam e, o óculos de mergulho, acaba por limitar a sua visão.

A superficialidade parece dominar os mais variados âmbitos da existência do homem moderno: as suas relações, seus estudos, seus planos. Enfim, quase tudo tem sido permeado de uma mentalidade superficial, que não gera o comprometimento, a responsabilidade e a doação. A imagem do mergulhador, que não avança para águas mais profundas nem sai do mar, ajuda a compreender o panorama hodierno. O homem não quer arriscar, pois teme fazer escolhas fracassadas, mas também não quer deixar de fazê-las, ou seja, a questão aqui é a busca por uma imparcialidade, que permita com que ele saia ileso, dependendo do resultado das suas decisões. Boa parte das relações atuais são efêmeras e sem comprometimento. Pois, se em um determinado momento o tu da relação não mais me agradar ou possuir um defeito qualquer, com o qual eu não saiba lidar, eu posso simplesmente deixa-lo, porque não há vínculo nem mesmo amor, e sim uma relação utilitarista.

O estado medíocre, no sentido de não tender nem para um lado nem para o outro, tende a conferir ao homem uma vida sem sentido e sem entrega. Ele, alegoricamente falando, ao mesmo tempo que está com uma parte do corpo na água e a outra para fora, não consegue viver profundamente nem um dos lados. E é frustrante pensar em alguém que se limitou a tentar buscar inúmeras coisas, mas que não foi feliz e não se encontrou em nenhuma delas.

A vivência da fé também pode ser abarcada dentro dessa mentalidade fragmentada e superficial. Tende-se a evangelizar com inovação e criatividade, o que é maravilhoso e necessário, mas, é preciso, também, purificar os meios para tal. Pois jamais deveremos encher os nossos templos em troca de um anúncio deturpado da Palavra de Deus. Cristo jamais enganou os seus discípulos. Sempre lhes apresentou o horizonte de uma vida crucificada. Nunca lhes escondeu a Cruz. E, aqueles que O seguiam, sabiam que iriam para os tribunais, que seriam martirizados por causa da Verdade e que veriam os seus a sofrer também.

Os cristãos dos primeiros séculos não eram devotos do sofrimento, mas sabiam que o testemunho de uma vida edificada na Verdade, lhes traria tribulações e os levaria a traçar o mesmo caminho do Seu Mestre e Senhor, mas não abandonaram a Palavra da Verdade em troca de suas vidas. Queriam sim nascer para a eternidade! Portanto, não podemos envergonhar-nos do Evangelho e aderir o pensamento moderno de que a fé é um estágio primitivo da humanidade. Não! Nós sabemos que crer é racional e que não basta crer, mas que é preciso doar a vida. Não abracemos a fé pela metade. Que não possamos dissociar fé e vida. Mergulhemos para as águas profundas da santidade!

Sem. Matheus Muniz

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