quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo


“Um menino que nasce e nos faz renascer.”

I – Uma Via de Santidade;
O Natal é a solenidade que marca o início do ciclo litúrgico e o que direciona o cristão à vivência cristológica do mistério da vida do próprio Cristo. Implícitos nessa liturgia estão vários elementos, que nos ajudam a viver melhor o Mistério da Encarnação do Verbo e da vocação cristã de ser outro Cristo. Se nos remetermos aos textos sagrados dos evangelistas Mateus e Lucas, encontraremos elementos que nos farão entender melhor a vocação cristã e sua plenitude, que se dará com a santidade participada da vida de Jesus Cristo.

II – A Obediência de Maria e José;

Maria e José são contrapostos a Adão e Eva, já que, pelos primeiros pais entraram a desobediência e o pecado no mundo (Gn 3,1s), e por Maria e José entraram a obediência e a vida (Lc 2,1s), que destruíram todo o pecado da desobediência. 
Isso mostra-nos que o pecado só é vencido pela obediência ao mandamento de Deus, e seu chamado a conversão, que nos redireciona a vida plena em unidade com Ele mesmo. E da mesma forma que Deus envia seu mensageiro, o Arcanjo Gabriel, a Maria e a José (Mt 1, 18-25), Ele sempre nos envia seus mensageiros, para que, também pela obediência, possamos fazer com que a vida nasça em nosso interior. Para dizermos como São Paulo: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” 

III – A Castidade de Maria e José;
A castidade vivida por Maria e por José também nos é exemplo e via para nossa caminhada rumo ao céu. A virtude da Castidade é sinal da intimidade com Deus, deixar os próprios prazeres para deliciar-se com a união divina. 
Diferentemente dos primeiros pais, que perderam a intimidade com Deus e fecharam as portas do paraíso, Maria e José, por sua integridade, ela por sua virgindade (Lc 1,27) e ele por ter sido considerado justo (Mt 1, 19), reabrem a porta da intimidade com Deus. Com isso, vê-se que a via para fazer nascer também o filho de Deus em nosso coração é a pureza de corpo e alma, que se reflete na virtude da castidade.

IV - Jesus na Manjedoura;
“Os pastores disseram uns aos outros: Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou.” (Lc 2, 15) 
É interessante perceber que a palavra Belém significa: Casa do Pão. Expressão que possui, no texto evangélico, uma grande relevância, pois, aquele que viria a nascer na “Casa do Pão”, também diria de si mesmo: “Eu sou o Pão da Vida”(Jo 6, 35). 
Isso nos remete ao entendimento da necessidade da união divina com o Pão da Vida, a Eucaristia. Uma vez que, Jesus ainda nasce a cada Santa Missa, pela transubstanciação, e é posto sobre a manjedoura do altar, para, assim, ser adorado pelos pastores. 
Jesus posto na Manjedoura é o sinal da pobreza, da simplicidade divina, sinal da vocação cristã, onde “aquele que se humilha será exaltado”. A pobreza evangélica que o Filho de Deus nos ensina desde se nascimento, o divino Rei que, “existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo” (Fl 2, 6-7). Portanto, entende-se que o Filho de Deus quer nascer em um coração pobre e desapegado das riquezas, para que Ele seja o único Senhor desse coração.

V – Os Reis Magos: ouro incenso e mirra;


Um detalhe bem interessante acontece com as figuras dos Reis Magos, que só são apresentados no Evangelho de Mateus. 
Diz o texto evangélico que os magos vêm do oriente, esse é um sinal que remete às culturas pagãs do extremo oriente, as quais sempre ameaçaram o povo de Israel. Mas outro simbolismo está envolto na figura dos reis magos, que é a sabedoria, uma vez que no oriente se situam as grandes civilizações, portadoras de grandes conhecimentos e de uma grande sabedoria.
Com isso, vê-se que as figuras dos reis magos possuem uma grande relevância, ao passo que a sabedoria do oriente vem adorar a Suma Sabedoria, o Filho de Deus (Mt 2, 2). “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.”(Mt 2, 11) Esses presente remetem ao múnus perdido pelos primeiros pais pelo pecado. 
O ouro é o símbolo da realeza, mas também da dignidade e da divindade, sinal do poder sobre a criação, sobre todas as coisas e sobre si mesmo. O ouro é o símbolo do valor que cada um adquire em Cristo.
O incenso é o símbolo do ofício sacerdotal, que todo batizado é chamado a realizar, como um chamado a ser próximo de Deus, a possibilidade de intimidade e amizade, de dialogar. O incenso é o símbolo de nossa oração que como fumaça sobe aos céus.
A mirra é o símbolo do oficio profético, que também recebemos no batismo, e somos chamados exalar o divino perfume do testemunho. O perfume é aquilo que é sentido a distancia, assim como o testemunho daquele que é configurado ao próprio Cristo.

VI – O Pastores.
Assim como os reis magos, só aparecem no evangelho de Mateus, os pastores só aparecem no Evangelho de Lucas, e estes significam os muitos governos, tanto políticos quanto os religiosos do muito inteiro. Uma vez que naquela época grande parte dos pastores não eram donos do rebanho, mas prestavam o serviço de pastorear aos proprietários. 
Com isso, vê-se que quando os pastores vão ao encontro do menino em Belém (cf. Lc 2,15-16), eles reconhecem que o Supremo Pastor havia nascido, e essa prefiguração se cumpre quando o próprio Jesus, em sua vida publica, diz: “Eu sou o Bom Pastor”(Jo 10, 11).
A figura dos pastores remete a profecia escatológica em que Jesus diz: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor” (Jo 10, 16). Portanto, entende-se que os pastores prefiguram a subsistência do Reino de Cristo. Os pastores vêm entregar seus rebanhos ao Supremo Pastor, para que haja um só rebanho e um só Pastor.

VII - Conclusão
A comemoração do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas do que uma festa a ser lembrada, ela é uma oportunidade de refletir sobre a nossa própria vocação de cristão, e a exemplo de Jesus, que mesmo sendo Rei e Deus, quis Ele nascer não em berço de ouro, mas em uma manjedoura, para que a realeza e divindade Dele mesmo não fossem contempladas somente exteriormente, mas sim, no interior de seu Ser. Da mesma forma, a vocação cristã é atualizar esse mistério de Riqueza e Pobreza, de Divindade e Humanidade, para que entendamos essa é a segura via para uma melhor identificação com o próprio Cristo.
Refletimos no decorrer do texto, sobre os conselhos evangélicos, que não são explicitamente colocados nessa tríplice via, porém é explicito que esses conselhos estão relacionados à vida do próprio Jesus e daqueles que estão ao seu redor. A Família de Nazaré é aquela que reabre as portas fechadas pelos primeiros pais, Adão e Eva, e ensinam a via para que possamos ainda permanecer com essas portas abertas. 
Que possamos, pelo testemunho, fazer Jesus Cristo nascer a cada momento em nossos atos, palavras e pensamentos, e que possamos ainda mais trabalhar para unificação do Reino de Cristo, pelo nosso dever de governar no reto Caminho, ensinar a Verdade e Santificar a nossa vida e a de nosso próximo.

Seminarista Rafael Augusto

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