quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Vocação: um chamado de alteridade

Deus, em sua infinita bondade, chama a todos para percorrer um caminho vocacional. Logo, todos nós somos chamados a responder, vocacionalmente, a Deus. E esse chamado é puramente aquilo que nos vai realizar da melhor forma, não por nossas satisfações, mas pela graça do próprio Deus que nos traz a realização e a felicidade de estar no caminho certo. A realização da vocação se dá na unidade a Deus, pois, quanto mais eu me uno a Ele naquilo que faço, sinto-me cada vez mais realizado em minha vocação. 

Pode-se dizer, no entanto, que uma crise vocacional é puramente uma frustração do Amor de Deus que não é correspondido. Sendo assim, é possível ver uma grande quantidade de pessoas que não são felizes em seu chamado, pois amam mais as coisas de Deus do que o Deus das coisas. É importante lembrar que a realização se dá sempre na relação com o outro, e não na relação com as coisas do outro. E isso acontece não só no chamado vocacional, feito por Deus, mas também se reflete nas buscas profissionais. Sendo assim, podemos questionar: porque as pessoas não são felizes naquilo que fazem? Certamente essas pessoas não são felizes, não por não gostarem do que fazem, mas sim por que aquilo que fazem se tornou, simplesmente, o meio pelo qual elas recebem uma recompensa, isto é, o salário. O mesmo pode acontecer em uma vocação matrimonial, religiosa, sacerdotal ou diaconal. E a consequência disso, é muito comum nos dias de hoje: pessoas que querem ser aquilo que não são, ou fazer aquilo que ainda não podem fazer. Hoje, estamos diante de uma grande crise de identidade, em que as pessoas nunca estão satisfeitas com aquilo que são, pois, por exemplo, quando ainda namoram querem ter uma vida de casados; quando já são casados buscam ter uma vida de solteiro, ou ainda, enquanto são seminaristas querem já ter uma vida de Padre, mas quando finalmente se tornam Padres, voltam a ser seminaristas...
Quando penso na minha vocação como meio de conseguir coisas, acabo não realizando aquilo que é proposto, que é a unidade com Deus, pois essa via unitiva se dá plenamente na identificação com Cristo, sendo assim, quanto mais Nele nos transformamos, mais realizados nos tornamos, visto que essa realização não nasce em nosso coração por uma satisfação própria, mas é o próprio Deus que a infunde em nós e nos realiza. A identificação com Cristo é o que realiza o homem, pois é Ele o homem perfeito, e é por isso que a plenitude do homem se dá na transformação em Cristo, para sermos verdadeiros cristãos. E é essa identificação com Cristo que traz a realização ao homem. Por isso, São Paulo exclama: “sede, pois, imitadores de Deus como filhos muito amados (Ef 5,1)” e “Eu vivo, mas já não sou eu: é Cristo que vive em mim (Gl 2,20)”.

Pode-se afirmar, então, que o chamado vocacional é um Dom de Deus, e por ser de Deus, é um dom para o próximo também: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum (ICor, 12,7)”, logo, é a grande possibilidade que temos de fazer o próximo feliz, pois se nossa vocação não nos leva a amar o próximo, algo está errado, já que “se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão é mentiroso (IJo 4,20)”. 

Vale lembrar que, o chamado vocacional não é um determinismo em que Deus nos obriga a fazer ou ser alguma coisa, o chamado vocacional é onde o indivíduo tem a possibilidade de exercer sua liberdade em toda a sua plenitude. A realização do homem não está em fazer o que gosta somente, mas sim no quanto nós conseguimos nos unir a Deus no amor divino e esponsal. Por isso, Santa Teresinha dizia que a vocação dela era o amor, pois quando nossa vocação é o amor, podemos fazer qualquer coisa por amor a Deus, que Ele sempre nos dará a realização.

Portanto, para que sejamos plenamente felizes em nossa vocação, é muito importante entender que Deus nos chama a uma missão, mas Ele nos dá a liberdade de seguir o caminho que Ele nos propõe ou o caminho que nós mesmos queremos. No entanto, o que verdadeiramente importa é que se fazemos com amor e buscamos nos unir a Deus naquilo que somos e fazemos, com toda a certeza Ele nos dará a realização.

Diácono Rafael


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