O Evangelho (Mc 1, 21-28) ao narrar a ida de Jesus à Sinagoga de cafarnaum, conta que Ele “começou a ensinar” e os seus ouvintes “se maravilhavam... porque ensinava como quem tem autoridade”. Até o espírito impuro, presente num homem, se dá conta da Sua presença e, enquanto grita, não deixa de reconhecer em Jesus “o Santo de Deus.” Ao expulsar o demônio, libertando o possesso, todos ficam maravilhados e dizem: “Que é isto? Eis uma nova doutrina e feita com tal autoridade que até manda nos espíritos impuros, e eles obedecem-lhe”.
Desde a chegada de Cristo, o demônio bate em retirada, mas o seu poder é ainda muito grande e “ a sua presença torna-se mais forte à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus” (São João Paulo II); devido ao pecado mortal, não poucos homens ficam sujeitos à escravidão do demônio, afastam-se do Reino de Deus para penetrarem no reino das trevas, do mal; convertem-se, em diferentes graus, em instrumento do mal no mundo e ficam submetidos à pior das escravidões.
A experiência da ofensa a Deus é uma realidade. E o cristão não demora a descobrir essa profunda marca do mal e a ver o mundo escravizado pelo pecado, ensina a Gaudium et Spes, 13.
São Paulo recorda-nos que fomos resgatados por um preço muito alto (1Cor 7, 23) e exorta-nos firmemente a não voltar à escravidão. Ensina São Josemaría Escrivá: “O primeiro requisito para desterrar esse mal é procurar comportar-se com a disposição clara, habitual e atual, de aversão ao pecado. Energicamente, com sinceridade, devemos sentir – no coração e na cabeça – horror ao pecado grave” (Amigos de Deus, 243).
O pecado mortal é a pior desgraça que nos pode acontecer. Quando um cristão se deixa conduzir pelo amor, tudo lhe serve para a glória de Deus e para o serviço dos seus irmãos, os homens, e as próprias realidades terrenas são santificadas: o lar, a profissão, o esporte, a política... “Pelo contrário, quando se deixa seduzir pelo demônio, o seu pecado introduz no mundo um princípio de desordem radical, que afasta do seu Criador e é a causa de todos os horrores que se aninham no seu íntimo. Nisto está a maldade do pecado: em que os homens tendo conhecido a Deus não o honraram como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato... Trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos” (Rm 1, 21-25).
O pecado – um só pecado – exerce uma misteriosa influência, umas vezes oculta, outras visível e palpável, sobre a família, os amigos, a Igreja e a humanidade inteira. Se um ramo de videira é atacado por uma praga, toda a planta se ressente; se um ramo fica estéril, a videira já não produz o fruto que se esperava dela; além disso, outros ramos podem também secar e morrer.
Renovemos hoje o propósito firme de repelir tudo aquilo que possa ser ocasião, mesmo remota, de ofender a Deus: espetáculos, leituras inconvenientes, ambientes em que destoa a presença de um homem ou uma mulher que segue o Senhor de perto... Amemos muito o Sacramento da Penitência (Confissão). Meditemos com freqüência a Paixão de Cristo para entender melhor a maldade do pecado.
Os santos recomendaram sempre a confissão freqüente, sincera e contrita, como meio eficaz de combater essas faltas e pecados, e caminho segura de progresso interior. Dizia S. Francisco de Sales: “Deves ter sempre verdadeira dor dos pecados que confessas, por leves que sejam, e fazer o firme propósito de emendar-te daí por diante. Há muitos que perdem grandes bens e muito proveito espiritual porque, ao confessarem os pecados veniais como que por costume e só por cumprir, sem pensarem em corrigir-se, permanecem toda a vida carregados deles”.
“Oxalá não endureçais os vossos corações quando ouvirdes a sua voz” (Sl 94, 7-8). Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a ter um coração cada vez mais limpo e forte, capaz de cortar o menor laço que nos aprisione, e de se abrir a Deus tal como Ele espera de cada cristão. E, assim seremos capazes de entender e acolher a mensagem de S. Paulo que apresenta a beleza e a grandeza do seguimento do Senhor, no Celibato.
S. Paulo, adverte que os casados, sujeitos aos deveres familiares, não podem entregar-se ao serviço de Deus com a mesma liberdade que os celibatários. O Apóstolo louva e aconselha a virgindade que permite ocupar-se nas coisas de Deus com um coração indiviso e sem preocupações (1Cor 7, 32-35). A Virgindade consagrada é uma maneira típica da novidade da resposta, que devem a Deus os seguidores de Cristo e tem, ao mesmo tempo, a função de recordar a todos os crentes que, em todas as coisas, o primeiro lugar pertence a Deus.
Mons. José Maria Pereira
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