Tradicionalmente a espécie humana é caracterizada por sua racionalidade, categoria está exclusiva, dentre os demais seres existentes. De fato, a esfera racional enaltece o homem e o faz dominador sobre o mundo, tornando-o capaz de se adequar a qualquer realidade e até mesmo sujeitar a si o meio ao seu redor. Porém, este princípio racional fora resumido à faculdade cerebral de cognição, se reduzindo a uma esfera meramente material e neurológica. Mas, no que consiste a real diferença entres os seres humanos, já que todos possuem a razão, porque tanta diferença?
Realizando uma reflexão ainda mais a fundo, a Filosofia grega vai encontrar um elemento espiritual, não no sentido religioso, mas de cunho transcendente à própria matéria. Tal elemento foi chamado de “nous”, que seria um conceito de “espírito, intelecto”, ou seja, um princípio de profunda identidade e individualidade do ser humano. Desse modo, cada pessoa é um ser único, vivendo por meio de infinitos momentos únicos e insubstituíveis, cada um deles oferecendo um significado em potencial. Quando nos elevamos à dimensão do espírito (mente/intelecto) desenvolvemos a dimensão da liberdade: não aquela proveniente das condições bio-psíquico-sociais, pois se somos prisioneiros da dimensão psíquico-afetiva, somos completamente livres na dimensão do espírito. Não apenas existimos, mas podemos exercer influência sobre nossa própria existência. Essa inteligência espiritual é a responsável pela enorme necessidade que o ser humano tem de avivar seu lado transcendental, donde surge o fenômeno religioso.
Semelhante a essa reflexão, a antropologia bíblica vai conceber o espírito humano dotado essencialmente de pura liberdade. Assim, sobretudo porque foi criado à imagem e semelhança de seu Criador, a imagem divina está presente em cada pessoa, que por isso é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida e por sua vontade é capaz de ir ao encontro de seu verdadeiro bem, encontrando sua realização na busca e no amor da verdade e do bem.
Toda essa esfera espiritual do homem constitui os poderes espirituais de inteligência, vontade e liberdade, que refletem a imagem de Deus.
Anderson Rodrigues Vieira
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