sábado, 12 de dezembro de 2015

A grandeza da relação Homem e Mulher na Origem da Criação



Que é o homem, Senhor, para cuidardes dele, que é o filho do homem para que vos ocupeis dele? (Sl 143,4).
A perfeita relação está em Deus, no Dom da Santíssima Trindade. Porque nela se realiza com perfeição o Amor, o dom de si para o outro. A exemplo dela entende-se o que é a relação Matrimonial, quais eram os planos originais de Deus para o Matrimonio e como hoje, depois da ação redentora de Cristo, os cristãos podem viver o Matrimonio.

Na relação eterna entre as pessoas da Santíssima Trindade, compreende-se que Deus é puro Amor. O Pai gera, eternamente, o Filho, o Filho é gerado eternamente pelo Pai, ou seja, o Pai doa-se inteiramente pelo Filho e, assim, o Filho se doa pelo Pai. E por esta relação de amor e doação, procede ao Espírito Santo. Nele se compreende a plenitude do amor e da relação entre as pessoas trinitárias. O Amor do Pai para com o Filho e do Filho para como o Pai gera uma pessoa, o Espírito Santo.

Na Santíssima Trindade o amor se manifesta pelo dom de si ao outro, uma pessoa ama e acolhe a outra, uma pessoa conhece e gera “vida” a outra. A relação trinitária cria a salvação e a ordem. E, inicialmente esse foi, sem dúvida, o propósito de Deus para a humanidade. A humanidade foi chamada a viver com e como seu Criador e por meio da Graça Santificante, e dar o real sentido para todas as coisas criadas. No princípio Deus criou a humanidade a sua imagem e semelhança. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele criou. (Gn 1, 27).

1.1. Complementariedade, homem e mulher
A leitura dos primeiros capítulos de Gêneses é o encontro da realidade misteriosa da criação do Homem e da grandeza da relação conjugal, que foi pensada, primordialmente, pelo Criador. Onde dessa forma, é perceptível que o homem foi criado para uma complementariedade, e naturalmente criado para o Matrimônio. A complementariedade do homem e da mulher se expressa de modo importante no Gênesis, desta maneira: Então o homem exclamou: ‘Está, sim, é o osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem. Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne (Gn 2, 23-24). O homem foi feito para a mulher e a mulher para o homem, uma aliança de amor. Essa aliança se dá pelo modelo principal, que é a Aliança de Deus com os homens. Uma aliança de Amor que gera a vida de todas as coisas criadas. Pois Deus ama o homem e a mulher. Esses são o centro da criação de Deus, tudo foi feito por Deus para eles. Com isso, o homem e a mulher devem viver um para o outro e não para si mesmos. Mas a complementariedade acontece quando o amor próprio não existe, ou seja, quando o amor é para o outro e quando o interesse do amor é a felicidade do outro.

No Hebraico, a palavra mulher (אִשָּׁה) provém do radical da palavra homem (אִישׁ), pode-se entender que a mulher surge do homem para completa-lo, sai do homem para voltar para ele, para ser um com o homem, ser uma só carne. Como a humanidade saiu de Deus para retornar para Ele, assim, na criação, a mulher sai do lado do homem como parceira, como alguém igual e distinto. Igual, porque possuem a mesma dignidade e distintos porque são complementares sexualmente.

No Relato da Criação, supracitado, percebe-se o homem diante de toda criação visível e ainda se percebe só. Sem alguém que o complete, o homem se vê numa solidão diante do desencontro. Por isso, Deus intervêm e cria a mulher para ser aquela que rompe com a solidão do homem. Dom Anselmo Chagas de Paiva reconhece por esse texto a complementariedade entre homem e mulher, com esse belo texto:

Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio não unilateral, mas recíproco. A mulher é complemento do homem, como o homem é complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o “humano” tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar. Quando o livro do Gênesis fala de auxiliar, não se refere só ao âmbito do “agir”, mas também ao do “ser”. (João Paulo II, Carta as Mulheres, São Paulo, 1995, pág. 13-15 in Dom Anselmo Chagas de Paiva, O Sacramento do Matrimonio e as causas de Nulidade, pág. 14-15.)

O homem e a mulher possuem uma distinção em seu ser, pois se não houvesse, uma não complementaria o outro, um não precisaria do outro. Mas poderia viver de modo isolado e egoísta. Dessa maneira, também se entende a administração do mundo criado, pois Deus os abençoou e assim, frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. (Gn 1, 28-30).

Na sua reciprocidade esponsal e fecunda, na sua tarefa comum de dominar e submeter a terra, a mulher e o homem não refletem uma igualdade estática e niveladora, nem mesmo comportam uma diferença abissal e inexoravelmente conflituosa: sua relação mais natural, conforme o desígnio de Deus, é a “unidade dos dois”, ou seja, uma “unidualidade” relacional, que permite a cada um sentir a relação interpessoal e reciproca como um dom enriquecedor e responsabilizador. Isso constitui o objeto de uma verdadeira vocação. (João Paulo II, Carta as Mulheres, São Paulo, 1995, pág. 13-16. In Dom Anselmo Chagas de Paiva, O Sacramento do Matrimonio e as causas de Nulidade, pág. 15.)

A mulher é de fato uma só carne com o homem, distinta dos outros animais, que ao homem são submissos e a ele é objeto de domínio e posse. O homem não é proprietário da mulher, não a possui como possui as outras criaturas. A relação do homem com a mulher é de ser um verdadeiro companheiro, como alguém que reconhece na mulher que é parte de si mesmo, osso de meus ossos e a carne de minha carne. (Gn 2, 23). Isto, pode ser entendido no Catecismo, com as seguintes palavras:
A íntima comunhão de vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis [...] O próprio [...] Deus é o autor do matrimonio. A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. (Catecismo da Igreja Católica (CEC) pág. 438-439, § 1603).

Com isso, a santa União trazida por meio da relação sexual do casal, traduzirá uma união ainda mais profunda de sentido. A relação sexual não é uma busca só de prazer, pois se assim fosse seria fonte de egoísmo. Mas a verdadeira fonte da relação sexual é a união conjugal, que jorra a fonte da vida de Deus, porque esta é selada com o amor, é casta e profunda. Ser uma só carne estava nos planos de Deus desde a eternidade. A relação sexual dos casados é fonte de vida, pois o homem e a mulher são chamados pelo Criador a serem co-criadores, (Gn 1, 28) continuadores e conservadores da criação.

Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os Deus Criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador, que “é amor” (I Jo 4, 8.16). E esse amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservação da criatura: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1, 28). 
Leonardo Ferreira

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