O Evangelho (Mc 8, 27-35) nos
apresenta Jesus com os seus discípulos em Cesareia de Filipe. Enquanto
caminham, Jesus pergunta aos Apóstolos: “Quem dizem os homens ser o Filho do
homem?” E depois que eles apresentaram as várias opiniões que as pessoas
tinham, Jesus pergunta-lhes diretamente: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Disse São João Paulo II, em 1980:
“Todos nós conhecemos esse momento em que já não basta falar de Jesus repetindo
o que os outros disseram, em que já não basta referir uma opinião, mas é
preciso dar testemunho, sentir-se comprometido pelo testemunho dado e depois ir
até aos extremos das exigências desse compromisso. Os melhores amigos,
seguidores, apóstolos de Cristo, foram sempre aqueles que perceberam um dia
dentro de si a pergunta definitiva, incontornável, diante da qual todas as
outras se tornam secundárias e derivadas: “Para você, quem sou Eu?” Todo o
futuro de uma vida “depende da nossa resposta nítida e sincera, sem retórica
nem subterfúgios, que se possa dar a essa pergunta”.
Essa pergunta encontra particular
ressonância no coração de Pedro, que, movido por uma graça especial, respondeu:
“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus chama-o bem-aventurado (Feliz és
tu, Simão...) por essa resposta cheia de verdade, na qual confessou abertamente
a divindade dAquele em cuja companhia andava há vários meses. Esse foi o
momento escolhido por Cristo para comunicar ao seu Apóstolo que sobre ele
recairia o Primado de toda a sua Igreja: “Por isso eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca
poderá vencê-la...”.
Pedro confessou sua fé no Cristo,
Filho de Deus vivo, graças à escuta de sua palavra e à cotidiana convivência. O
Discípulo reconheceu o Messias porque a revelação do Pai encontrou nele
abertura e acolhida. Quer dizer, descobre a verdade dos desígnios de Deus quem
se deixa iluminar pela luz da fé. Com razão, reconhece o Documento de
Aparecida: “A fé em Jesus como o Filho do Pai é a porta de entrada para a
Vida.” Como discípulos de Jesus, confessamos nossa fé com as palavras de Pedro:
“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (DAp, 100). A fé é um dom de Deus, é
uma adesão pessoal a Ele. Crer só é possível pela graça e pelos auxílios interiores
do Espírito Santo.
Para dar uma resposta convincente
de fé, os cristãos precisam conhecer a fundo Jesus Cristo, saber sempre mais sobre
sua pessoa e obra, pela leitura e meditação dos Evangelhos e pelos encontros
com Ele por meio da ação litúrgica, em particular, dos sacramentos.
“Tu és Pedro...”. Pedro será a
rocha, o alicerce firme sobre o qual Cristo construirá a sua Igreja, de tal
maneira que nenhum poder poderá derrubá-la. E foi o próprio Senhor que quis que
ele se sentisse apoiado e protegido pela veneração, amor e oração de todos os
cristãos. Se desejamos estar muito unidos a Cristo, devemos estar sim, em
primeiro lugar, a quem faz as suas vezes aqui na terra. Ensinava São Josemaria
Escrivá: “Que a consideração diária do duro fardo que pesa sobre o Papa e sobre
os bispos, te leve a venerá-los, a estimá-los com a tua oração” (Forja, 136).
O nosso amor pelo Papa não é
apenas um afeto humano, baseado na sua santidade, simpatia, etc. Quando vamos
ver o Papa, escutar a sua palavra, fazemo-lo para ver e ouvir o Vigário de
Cristo, o “doce Cristo na terra”, na expressão de Santa Catarina de Sena, seja
ele quem for. O Romano Pontífice é o sucessor de Pedro; unidos a ele, estamos
unidos a Cristo.
Jesus continua perguntando-nos:
“quem dizeis que eu sou?” para responder, não basta procurar na memória alguma
fórmula que aprendemos no catecismo, ou ouvimos de outros ou lemos nos livros.
É preciso procurar no coração, em nossa fé vivida e testemunhada. Assim
descobriremos o que Jesus representa, de fato, em nossa vida.
Mons. José Maria Pereira
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